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Na França, um estudo recente mostrou que ganhar 3.860 euros líquidos por mês já te coloca entre os “ricos” do país. Mas será que esse valor é realmente suficiente para uma vida confortável? A resposta depende de muitos fatores, principalmente de onde você mora e como lida com os gastos do dia a dia. E mais: será que os franceses concordam com essa definição de riqueza?
O que significa ser “rico” na França
O estudo foi feito pelo Observatoire des Inégalités, um centro francês que analisa desigualdades sociais e econômicas. Segundo eles, uma pessoa solteira na França entra na faixa dos mais ricos se tiver uma renda líquida de pelo menos 3.860 euros por mês. Esse valor é o dobro da chamada renda mediana, ou seja, daquilo que a maioria dos franceses ganha.
Para um casal sem filhos, o valor para ser considerado rico sobe para 5.790 euros. Já para uma família com dois adolescentes, esse número passa dos 9.650 euros por mês. Esses números ajudam a entender como a renda é avaliada de forma proporcional ao tamanho da família, o que é importante num país que valoriza o bem-estar coletivo.

Apesar disso, apenas cerca de 7% da população francesa ganha tudo isso. A maior parte dos trabalhadores da iniciativa privada em tempo integral recebe menos de 2.100 euros por mês já com os descontos aplicados. Ou seja, para a maioria, essa faixa de renda está longe da realidade.
Ganhar bem, mas sem sobrar
A ideia de que quem ganha quase 4 mil euros líquidos por mês está “tranquilo” financeiramente é colocada em dúvida quando olhamos para o custo de vida nas grandes cidades da França, principalmente Paris. Aluguel, transporte, alimentação e contas básicas consomem uma boa parte dessa renda. Viver na capital francesa ou em outras cidades grandes pode transformar um bom salário em algo apenas suficiente.
Por exemplo, o aluguel de um apartamento de dois quartos em um bairro comum de Paris pode passar dos 1.500 euros. Some a isso o transporte público, que não é dos mais baratos, a alimentação e os custos com saúde e lazer, e o que sobra no final do mês pode ser pouco. Só um passe mensal de transporte custa cerca de 84 euros. Restaurantes e supermercados também são mais caros em áreas urbanas.
Na prática, muita gente que está dentro da faixa considerada rica segundo o estudo não sente que vive como uma pessoa rica. Isso acontece porque a conta bancária pode até estar cheia no começo do mês, mas o dinheiro vai embora rápido quando se coloca tudo na ponta do lápis. E quando surgem gastos inesperados, como manutenção do carro ou despesas médicas, o orçamento pode apertar ainda mais.
Além disso, ter um bom salário não significa necessariamente ter estabilidade financeira. Muitos franceses ainda vivem com dívidas, especialmente quem tem filhos ou precisa cuidar de familiares. Isso mostra como o conceito de riqueza precisa levar em conta não apenas o quanto se ganha, mas também o quanto se gasta e como se vive.
Percepções sobre riqueza vão além do salário
Outro ponto interessante do estudo é que, para muitos franceses, riqueza não é só sobre quanto entra na conta todo mês. É também sobre o estilo de vida. Tempo livre, bem-estar e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal são vistos como parte do que torna uma pessoa verdadeiramente rica.
Uma pesquisa feita em parceria com a BFM Business revelou que 82% das pessoas entrevistadas só consideram alguém rico se ela ganhar mais de 5.000 euros líquidos por mês. Isso mostra que a percepção da população é ainda mais exigente do que os critérios do estudo oficial. Em outras palavras, as pessoas acham que é preciso ganhar ainda mais para alcançar uma vida verdadeiramente confortável.
Na visão de quem vive no país, a verdadeira riqueza está na liberdade de escolher, no conforto do dia a dia, e não apenas nos números. Muita gente prefere ter um salário mais modesto, mas uma rotina mais leve e prazerosa, a ganhar muito e viver estressado. O famoso equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um valor forte na cultura francesa.
Diferenças regionais e desigualdades sociais
É importante lembrar também que a França é um país com muitas diferenças regionais. O que é considerado um bom salário em cidades do interior pode não render tanto em lugares como Lyon, Marselha ou Paris. Isso reforça a ideia de que a quantia que define riqueza varia bastante de acordo com o local onde a pessoa vive.
Além disso, a desigualdade social continua sendo um desafio. Enquanto uma parte da população consegue manter um padrão de vida confortável, outra parte precisa lidar com dificuldades para pagar o básico. Essa distância entre os que ganham mais e os que ganham menos também interfere na percepção de quem é ou não considerado rico.

Outro fator que pesa é o acesso a serviços públicos de qualidade. Mesmo com um bom salário, viver em regiões com infraestrutura precária pode diminuir a qualidade de vida. Já quem vive em áreas bem atendidas por escolas, hospitais e transporte público pode aproveitar melhor a renda, mesmo que ela não seja tão alta.
O impacto da inflação e da economia global
Nos últimos anos, a inflação tem afetado a França, assim como vários outros países europeus. O aumento nos preços da energia, combustíveis e alimentos tem pressionado o orçamento das famílias. Mesmo pessoas que ganham acima da média estão sentindo o peso do custo de vida.
A economia global também interfere. Mudanças no mercado de trabalho, avanços tecnológicos e crises internacionais afetam diretamente o poder de compra. O medo de perder o emprego ou de ver os custos fixos aumentarem faz com que muitas famílias optem por economizar, mesmo que tenham uma boa renda.
Conclusão do Ta Na Europa!
Ser considerado rico na França ganhando 3.860 euros líquidos por mês pode até ser uma definição técnica baseada em dados estatísticos, mas na vida real a história é bem mais complexa. O custo de vida nas grandes cidades, os gastos fixos e a pressão por manter um certo padrão fazem com que muita gente não se sinta rica mesmo ganhando acima da média.
Riqueza, no fim das contas, não é só uma questão de salário. É também sobre qualidade de vida, liberdade de escolhas e equilíbrio. E, nesse ponto, a conta fecha de formas muito diferentes para cada pessoa.
A percepção do que é ser rico muda com o tempo, com as necessidades de cada um e com o cenário econômico. Por isso, entender o contexto em que as pessoas vivem é essencial para fazer qualquer julgamento. Afinal, dinheiro é importante, mas ele sozinho não garante felicidade nem tranquilidade.
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Quem é considerado rico na França? Estudo relança debate sobre desigualdade – https://www.lemonde.fr/economie/article/2024/06/05/qui-est-riche-en-france-l-observatoire-des-inegalites-repond-et-relance-le-debat_6237508_3234.html
Ganhar 3.860 euros por mês te torna rico na França? Veja o que diz o estudo – https://www.bfmtv.com/economie/emploi/vie-de-bureau/3860-euros-par-mois-peut-on-se-considerer-riche-avec-ce-salaire-en-france_AV-202403020046.html
Estudo sobre desigualdade e níveis de renda na França em 2024 – https://www.inegalites.fr/Qui-sont-les-riches-en-France-2024